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sexta-feira, 12 de setembro de 2014

Um projeto: pensar

 Dizer que "esta é uma criança arteira" refere-se a um certo tipo de comportamento infantil que não é capturado, qual transita entre a criatividade, loucura e, aproveitando a deixa, genialidade... coisas que sempre estiveram de mãos dadas. Claro, não é à toa que durante a ditadura esse núcleo (da criação, aquilo que gera uma possibilidade de experimentação da diferença) foi estupidamente censurado. Quer dizer, ao menos tentaram, pois novamente os artistas criaram outros meios de realizar suas obras.

 No entanto, o que posso perceber atualmente é uma situação diferente: uma arte que vem sendo cada vez mais cafetinada. Na verdade desde há muito existe essa tentativa, só que no panorama atual essa instrumentalização ganhou outros nomes (trabalhando com conceito do gozo, como "abra a felicidade") e agindo em pontos do prazer/conforto dos homens. Esconde-se entre carregadores de dispositivos a coleira de um cachorrinho que se ofende facilmente se alguém tentar pensar essa pendenga. Aproveito: a sacralização dos gostos é um tipo de política daqueles que tem na boca o tão fácil "mas isso é uma questão de gosto".

 Não desejo entrar em méritos de "eu gosto ou não gosto"; não estou para dizer do que se deve ou não gostar, mas sim exercer o pensamento em torno de. Toda forma de cultura que modifica o agir (ou interrompe) provoca uma mudança de política. E tudo é política! Não existe "eu vou tomar um cafezinho ali e deixar de fazer política um minutinho". Dentro de um sociedade (e estamos todos em alguma, não?), este é o sol que sempre nos iluminará.

 O cônsul-geral de Israel, frente à proposta de rejeição dos artistas ao patrocínio de seu país na Bienal de SP (por causa das ações na faixa de Gaza), deu uma resposta que achei engraçadíssima, mas que me é muito comum ler/ouvir por aí: "afirmou que é ilógico misturar o tema político com o segmento cultural". Não existe essa separação de: ESTE é o segmento cultural e AQUELE é o segmento político. Isso serve para prestação de contas, mas não no processo da vida. 

 Essa resposta (ou forma de pensamento) é facilmente adotada por ser mais simples empurrar a responsabilidade dos fatos (que cabe a cada um) a um outro: /a sociedade (que são todos menos eu); /os pais que me criaram assim e não daquele jeito; /o governo; /os genes deterministas...... ... e por um motivo óbvio: tal responsabilidade incide no desejo de continuar obtendo prazer e conforto dentro do que se tem como gosto próprio. Ou mesmo interrompê-lo, o que é o pior, já que essa instrumentalização da arte (e dos sentidos portanto) não permite a compreensão de uma experiência artística diferente.

 Essa incapacidade de duvidar do próprio gosto; de pensar o próprio gozo e talvez perceber que alimenta aquilo que lhe torna menor, é o que me faz seguir neste projeto. Perceber num pensamento coletivo homens que se vêem enquanto agentes inativos no papel da cultura e política pra preservar seu próprio gosto, defender suas marcas e bandeiras. Mas quero faze-lo num modo natural de compreensão: não ensinar, senão incitar/excitar o pensamento. Se difícil entender, resumo: contra a cafetinação da arte enquanto um barateamento da experiência.

 Importante mencionar. Deve-se se afastar do preconceito e pré-julgamento acerca de gêneros e dispositivos de arte: o funk é tão importante quanto o rock, o cinema é tão importante quanto a TV; e um livro é tão prazeroso quanto uma pista de dança. Sei que é difícil propor, mas vamos nos colocar longe das disputas dessas diferentes formas. E o sexo, a violência, as drogas e o dinheiro sempre foram temas dentro da arte, mas que podem ser postos de forma a emancipar um pensamento/experiência ou aprisionar um desejo. Minha impressão é de que num jogo de discursos muito bem feitos, esconde-se o segundo ponto dentro dessa arte instrumentalizada/capitaneada.







Cafajeste

Marcelo me ligou

Me chamou para jantar
João já comprou flores
Mandou me entregar



Até declaração
O Pedro já me fez
Thiago já avisou
Que vai até o final



Só que tem um porém
Todos eles não sabem
O que eu gosto mesmo
É de amor com sal



Eu gosto é daquele cafajeste
Aquele que não liga
E que não me merece



Que só faz coisa errada
E que me enlouquece
Chega, faz e acontece



Eu gosto é desse animal
Por ele sou capaz 
De crime passional
E de outras loucuras 
Fora do normal



Amor, piração total



quarta-feira, 19 de dezembro de 2012

Caetano Veloso - Abraçaço 2012

Quando li numa chamada de entrevista que teria uma influência do Funk, pensei: "Poxa, mas isso não se esgotou?". Quanto engano meu...
Como pode ainda ter tanto a dizer? De onde bebe Caetano? Qual endereço eletrônico das musas? Será que elas se mostram nuas num cam4, seduzem usuários a troca de moedas? Bem, com certeza não será a pedido de likes no facebook.

É preciso compartilhar essa contemplação direta! E ele dá pistas a cada canção.

Para além disso, ele diz:
* "A bossa nova é foda"
* que "os comunistas guardavam sonhos"
* "eu me sinto vazio e ainda assim farto. Estou triste e o lugar mais frio do Rio é o meu quarto";
* "pq será que existe o que quer seja? O meu lábio não diz | o meu gesto não faz";
* "Você produz raiva, confusão, tristeza e dor. Prova que o ciúme é só estrume do amor"
* Eu pensava que nós não nos desgrudaríamos mais: o que fiz pra mecerecer essa paz que o sexo traz?

Aos que não aprendem nada com canção alguma (sentimental ou não)... tá'qui um bom começo para se auto-educar.

Eu digo: O CAETANO É FODA!




ps.: e se é uma verdade que o sexo traz paz,..., ou o mundo tá numa seca ou tem muita,..., mas muita muita muita gente que não sabe transar. Sinais de q?






quinta-feira, 19 de janeiro de 2012

Legião Urbana - de volta à arena

Não sou apreciador de futebol mas, no momento em que teclo este texto, o Brasil está sendo eliminado da Copa pela França e, assim, o papo que estava marcado com toda a Legião Urbana na casa do guitarrista Dado Villa-Lobos (ele e Fernanda, sua esposa e empresária da banda, acolheram os prafrentex durante os jogos em seu apartamento na Gávea) está cancelado. Acabei tendo de conversar com a turma nos intervalos da gravação do clip da primeira faixa do álbum Legião Urbana Dois, "Tempo Perdido", nos etudios RGB, em São Cristóvão, subúrbio carioca.

Quase dez da noite e são dados os últimos retoques na iluminação para o começo dos trabalhos. No camarim, entre mordidas de maça, eles vão falando sobre o novo disco. A princípio havia a possibilidade de um álbum duplo que atenderia pelo pomposo nome de Mitologia e Intuição. Seria duplo porque incluiria músicas muito antigas e que, agora, dificilmente sairão da gaveta. Entre elas está a épica "Faroeste Caboclo", que dura mais de 10 minutos e só foi apresentada em poucos shows.Agora, nem pensar. Haveria também uma nova versão de "O Senhor da Guerra", criada para um especial infantil da Rede Globo no ano passado, mas com um pique mais pesado.Outras que ficaram de fora são "Tédio" e "Conexão Amazónica". Dado explica que a gravadora considerou economicamente inviável o álbum duplo. Nenhum artista brasileiro de rock ainda apostou neste tipo de projeto. O material que compõe Legião Urbana Dois Começou a ser criado em dezembro de 1985, durante a pré-produção das bases. Em janeiro foram feitas as primeiras gravações, o Carnaval forçou uma parada (pois coincidiu com as férias Coletivas da gravadora) e em março o trabalho já estava praticamente concluído. Abril foi gasto com as mixagens. Ao contrário da estréia do Legião, este álbum chega às lojas e às rádios precedido de imensa expectativa. Quando foi lançado o primeiro disco, a gravadora achava bom atingir cinco mil cópias de vendagem. Renato Russo, o vocalista, apostou em 50 mil. No final já foi ultrapassada a marca das 80 mil unidades e falta bem pouco para se agarrar o Disco de Ouro.

Sobre as músicas que fariam parte de Mitologia e Intuição. Renato Russo quer arrematar que ficou chateado com a exclusão sumária de "Grande Inverno da Rússia" (assinada por um dos co-autores de "Ainda É Cedo", Ico Ouro-Preto) e da então proposta faixa-título, uma vinheta composta pelo baterista Marcelo Bonfá. Eram muito boas, explica Renato, mas só tinham sentido naquele projeto.

Mas mesmo no novo disco também ficou de fora uma música que o Legião já vem apresentando em show há mais de dois anos. É "Juízo Final", do carioca Nelson Cavaquinho, recentemente falecido: uma letra que bem poderia ter sido escrita pelo igualmente "ido" Ian Curtis (do extinto Joy Division) e que nos shows ganha uma roupagem bem New Order (a continuação do Joy). Esta faixa fecharia o lado B, mas sua inclusão comprometeria a qualidade do som do disco, pois exigiria um estreitamento dos sulcos. Em compensação, o cassete virá com uma faixa extra (hábito que começa a ficar comum aqui pelo Brasil): "Química", tomada nacionalmente conhecida pelos Paralamas do Sucesso. Ela aparece, agora, numa versão ao vivo, feita para o programa Clip Clip.

A banda conta que trabalhar neste disco foi muito melhor que na primeira vez, embora a fissura da estréia tenha sido maior. Com todos os integrantes morando no Rio, não há mais a tensão de correr. Nem a saudade de voltar para casa, que resultou na criação de "Por Enquanto", a única música do primeiro álbum que o Legião não apresenta em shows (ela apenas aparece em fita, como uma espécie de "coda", ao final de cada apresentação). Mas Renato avisa que, na próxima temporada, "Por Enquanto" será incluída no repertório, com outro swing. Trazido de Brasília, o Legião está vivendo como todos os cariocas. Bonfá se dedica cada vez mais ao body-board e, graças ao esporte, adquiriu um invejável bronzeado. "É demais", explica ele, "me dá uma energia maior para enfrentar a bateria. As vezes vou parar em Guaratiba (bem mais longe que a Prainha, ponto da Barra da Tijuca onde costuma ir assim que o sol aparece)." O esporte afastou Bonfá da vida noturna nos "baixos". Contudo, ninguém desta banda é muito chegado à noite. Renato mora na distante Ilha do Governador e prefere ler, ouvir música e ver filmes. Dado leva uma vida bem caseira ao lado de Fernanda. Gosta mesmo é de apostar nos páreos do Jóquei Clube e descobrir restaurantes exóticos. O baixista Renato Rocha (Negrete) vê desenhos animados na TV, gosta de cross e está pensando seriamente em comprar uma asa delta para começar a voar com sua namorada.

Talvez aí se encontre a explicação do novo enfoque das músicas do Legião, conforme observa Renato Russo. "O segundo disco não está tão dirigido a coisas externas: Estado, política. Esse é superinterior, mais o lado emocional das pessoas. Se bem que tem coisas sociais, como´Metrópole´, e muita coisa sobre sexo, como o ´Daniel na Cova dos Leões´ (que já existia antes do começo das gravações). Mas não são músicas românticas no sentido banal da palavra, e sim sob o prisma mais da amizade que da paixão. Tem ´Eduardo e Mônica´, que trata do lado da vida do casal, mas em si não é uma coisa romântica."

Há, também, "Música Urbana II", uma canção cústica bem ao estilo dylanesco. É parente de "Música Urbana I", gravada pelo Capital Inicial e parte do repertório do Aborto Elétrico, o embrião do punk brasiliense. Não se pensou em fazer algo na linha de "Geração Coca-Cola II", pois sabem que os verdadeiros fãs do Legião reconhecerão a banda neste disco. A mudança de som que se pode vir a contestar é fruto lógico da evolução da banda, mais afiada após inúmeros shows.

Antes do término de nossa conversa - e do reínicio das gravações do clip - embrenhamos por uma divagação sobre desenhos animados. Só Dado ficou de fora. Os desenhos favoritos de Renato são "Jonny Quest" e "Os Impossíveis". Para Negrete, os bons eram "Dick Tracy" e "Janjão, Coração de Leão". Bonfá fica com "Corrida Maluca" e "Roger Ramjet". Fecho com eles citando "Os Herculóides" e "Space Ghost". De "Batman" - o filme - todos gostam.

Antes de partir para a frente da câmera, Renato faz questão de dizer que é fã do Sérgio Brito, dos Titãs, "pelo modo como ele interpreta as músicas". Dado aproveita para eleger Redson, do Cólera, a figura mais carismática do rock. Renato concorda: "Acho o Redson supersincero". Opinião apoiada por todos, que reclamam uma urgente volta do Legião aos palcos. Afinal, o último show - e um dos melhores - foi em abril, na Unicamp,junto com a apresentação da peça "Feliz Ano Velho", escrita por um fanzão do grupo, Marcelo Rubens Paiva. Para todos foi emocionante e histórico, pois reuniu mais de seis mil pessoas, provavelmente um público recorde para qualquer peça nacional.

Fim de papo. Naldo, o road-manager, arrasta a banda para fora do camarim. Renato está sem óculos, uma decisão ditada mais pela praticidade que pela vaidade ("eu pulo muito e suo bastante"). E se movimentar bastante é o que ele faz quando o clip volta a ser rodado. O cenário é composto apenas por uma tela de televisão, onde vão sendo projetadas imagens de alguns veteranos do rock em sua mais tenra juventude - Brian Wilson (dos Beach Boys), Jimi Hendrix (irreconhecível de militar), Bob Marley (de smoking), Bob Dylan (imberbe), Mick Jagger (penteado "reco"),John Lennon (em Hamburgo). A câmera movimenta-se em círculos, suave e sinuosa, como a própria música. Ecoa no cimento do estúdio o refrão da música: "Somos Tão Jovens". E Renato, sem aviso, dá uma de suas mais vibrantes performances. Rodopia, dança, sacode o pesado pedestal do microfone e destrói, assim, todo o piso.

O diretor grita: "Parou, descanso para a banda". Renato Russo está suando em profusão. E está sorrindo.

sábado, 5 de março de 2011

COQUETEL MOLOTOV

Ginásio do Ibirapuera (SP) 10 e 11/06/88

Estádio Mané Garrincha (Brasília) 18/06/88

Mineirinho (BH) 25/06/88

São Paulo, sexta-feira, primeira noite. Este foi, provavelmente, o melhor show o Legião desde o começo de sua megaturnê, após o estrondoso sucesso de "Faroeste Caboclo" nas rádios de todo o Brasil. Renato inicia, como em todos os outros shows, com "Que Pais E Este?", levando logo de cara a platéia ao delírio, num coro que se seguiria durante todas às duas horas de espetáculo. Quase todo o repertório do Dois, as pérolas do primeiro LP mais as do terceiro, mesclando medleys que iam de Beto Guedes a Sex Pistols, Rolling Stones a Caetano, Titãs a Sisters of Mercy e Led Zeppelin a "Blue Suede Shoes". Até Cazuza. Todos estes covers pontuariam tanto os shows de São Paulo quanto o de Brasília e o de Belo Horizonte.

Para o bis, nesta primeira noite paulista, Renato reservou "Geração Coca-Cola", atiçando a moçada a destruir peças promocionais da Pepsi, aclamando: "Destrua, destrua! É multinacional!" Pop star? (como o chamaram os próprios leitores de BIZZ, vide seção de cartas). Qual tem a coragem de se dirigir tão ferozmente contra seu próprio patrocinador?

Segundo dia, sábado. A má organização da WTR já dava mostras desde o primeiro dia. Quase ninguém conseguia achar seu lugar devido à escuridão que reinava no ginásio, uma exigência da Pepsi para que seus infinitos vídeos e reproduções enormes de latas de refrigerante pudessem ser bem registrados em sua memória. Vem daí, talvez, o protesto de Russo. Poucos seguranças na porta. Poucos foram revistados. Resultado: logo após a primeira música, um imbecil de posse de uma garrafa de cerveja atira-a ao palco, passando de raspão pelo baterista Bonfá. Renato pede que acendam as luzes. A produção não acende. Ele pede uma, duas, joga seu violão ao chão e exige: "Acendam as luzes do ginásio, porra!!!" Acendem. Renato conta ao público o incidente da garrafa e, com um caco de vidro na mão, diz que todos receberão seus ingressos de volta e se despede: "Boa noite. São Paulo!" A galera aguarda vinte minutos. Renato volta, com as luzes acesas provavelmente uma exigência dele mesmo. Canta uma letra improvisada onde questiona o porquê dos jovens tomarem atitudes assim etc, etc. A certa altura, Dado fala com ele e Renato pede: "O Dado quer que apaguem as luzes", E o espetáculo reinicia, de fato, tomando força a cada canção. A galera parece esquecer o ocorrido. O show torna-se perfeito. No bis, mais uma vez "Geração Coca-Cola". Renato deixa o final do refrão para o público. A Pepsi não deve ter acreditado ao ver que patrocinava um evento no qual as vinte mil pessoas presentes gritavam o nome de sua concorrente. E ele se despede, emocionado: "O que aconteceu hoje foi inédito e histórico. Espero que vocês se lembrem disso com carinho... Que Deus proteja todos vocês!"

Brasília, sábado, único show. Uma hora antes de iniciar o espetáculo, adentro no estádio. À frente do palco, milhares de pessoas se comprimem em frente a uma estrutura de alumínio - tão resistente que bastaria um sopro para ir ao chão sustentada por canudos de papelão (!?!?). Há uns cinqüenta seguranças civis. Penso: "Não vai durar nem o primeiro acorde. Vão invadir". Nomes aos bois, vamos ao segundo: Agora Eles Produções...

Às 23h35 Renato sobe ao podium, dizendo: "Boa noite, Brasília. Nós vamos nos divertir, não é?" "Que País E Este?" agita a turma do gargarejo e os atendimentos de desmaios continuam... Até "Conexão Amazônica", tudo bem. Renato começa um discurso anti-drogas, bem ao seu estilo, contando sobre um pessoal chamado Clube da Criança Junkie que ele conheceu em Brasília e que se drogava a valer. No saldo, ele relata: "Dois sobreviveram, dois se casaram, um morreu e outro ficou assim (estiliza um esquizofrênico)". Foi neste momento que o tal paraplégico (foto), doente mental, fã ou assassino, fura o cerco de seguranças e agarra o pescoço de Renato, parecendo querer estrangulá-lo. Renato deflagra golpes de microfone para livrar-se dele.

Logo em seguida vem o primeiro objeto atirado ao palco. Renato se mantém calmo e só avisa que, se isso se repetir, vai parar o show. O show continua e outro objeto é atirado ao palco, desta vez quase acertando Dado. Renato alerta mais uma vez: "Isso é coisa de garoto que não consegue arrumar namorada e fica se masturbando no banheiro". O público ri.

Mais adiante, mais um objeto. Antes do novo petardo, Renato protesta com um segurança que está dando porrada num fã: "Mão na cara, não. Tira o cara na boa, mas mão na cara, não, senhor! Eu desço aí em baixo e lhe dou uma microfonada na cabeça, hem, meu!". Bem, mais um objeto é atirado. Renato cobra, então, cumplicidade daqueles que estão lá apenas para se divertir, "Você sabe quem atirou. O cara está do teu lado! Dá uma prensa nele, pó!" A cumplicidade não vem, e sim o quarto objeto - desta vez derrubando o violão de Renato da estante. Daí, sim, começam as cobranças de fato. Renato: "Quando vão atingir a maioridade? Eu me dei bem, estou aqui, ó, consegui chegar onde eu queria. E vocês?..." E completa: "Só por causa disso vamos cortar três músicas". E ataca direto "Faroeste Caboclo". Os objetos continuam. Renato ainda canta "Tempo Perdido" e, antes daquela que marca a última da noite, ainda tenta uma última palavra quanto ao comportamento do público: "Vamos cantar uma música que é muito importante para nós, e que tem tudo a ver com o momento de agora". Solta "Será", cantada em clima estático/estarrecido até as frases finais: "Será que vamos ter que responder Pelos erros a mais eu e você". E deixa o palco, seguido por seus legionários às 23h40. O pessoal espera pelo bis que não vem. As luzes se acendem às 24h e aí começa o final da baderna - coisas atiradas ao palco, tentativa de destruição dos aparelhos de som, queima do feltro que cobria o gramado e incentivos do pessoal da arquibancada com "Quebra, quebra!"

Antes do show já havia sido registrada a depredação de vários ônibus oriundos das cidades satélites para o show. Os portões foram literalmente arrebentados uma hora antes do show iniciar. A polícia, a cavalo, invadiu as filas e jogou seus cães contra a multidão, como foi descrito nas várias reportagens e nas próprias cartas dos leitores de BIZZ. Suicidas quebraram braços e pernas ao tentar pular um fosso de mais ou menos seis metros que separava as arquibancadas do gramado. Pelo menos 70% dos 385 ferimentos se deram nesse contexto. O governo do Distrito Federal, que antes do show utilizava os letreiros laterais do palco para fazer sua propaganda particular, saudando o Legião como "O Orgulho de Brasília", responsabilizou Renato Russo pelos incidentes. Mais. Proibiu, via Fundação Cultural, shows de rock em Brasília, como o do Detrito Federal, cancelado devido ao tumulto no show do Legião.

Depois, veio o batalhão de notícias. E as expectativas quanto ao show de Belo Horizonte. Lá, uma semana antes, pastores da igreja do Evangelho Quadrangular (sic) pregavam em praça pública contra a realização do espetáculo, referindo-se a Renato Russo como "o emissário do Demônio". Nosso colaborador, Arthur G.C. Duarte, também psiquiatra, foi procurado pelos jornais locais para dar sua opinião médica quanto a Renato Russo. Mas as filas não diminuíram para o show ao contrário. Algo em torno de 25 mil pessoas, com um aparato policial fortíssimo, assistiram ao espetáculo, que rolou na maior tranqüilidade, fora um ou outro desmaio e Renato Russo se despediu pedindo a seus fãs que não desistissem nunca.

Depois do ocorrido em Brasília, Renato veio conversar comigo, Tina, Xixa (EMI-Odeon) e Arthur Dapieve, do JB. Comentei: "Mas, Renato, deveriam ter armado o palco atrás do fosso..." E ele respondeu: Mas, Sônia, este é um lance da banda. A gente não quer tocar a quilómetros de distância do público".

É, ele peitou, sim, aqueles que quiseram peitá-lo. Cobrou uma cumplicidade dos fãs que não houve. Se ele tem culpa, é a de ter desejado se relacionar com 40 mil pessoas como se ele fosse uma delas. Um sonho, talvez.

Ele sabe que para o rock´n´roll sobreviver neste país depende, 90%, do público. Sabe que está cheio de neguinho esperando uma oportunidade para dizer: "Olha aí, está vendo? Rock é isso, incita a violência. Faz os jovens ficarem desajustados". O que, enfim, fizeram, dado o teor tendencioso das matérias publicadas.

Ninguém - ou poucos se propôs, na imprensa escrita e/ou televisiva, a fazer um paralelo com o futebol, por exemplo, cuja violência reina há séculos sem que nenhuma autoridade mova um só dedo, porque, afinal, a Federação é filiada a um órgão do governo, O tumulto, a raiva, a frustração de milhares de crianças e a orelha rasgada de uma mãe no show da Xuxa em 30/06/88 recebeu apenas uma pequena nota no Caderno 2 (SP) do dia seguinte. Quando algumas pessoas morreram num show dos Menudos, há algum tempo, pouco se noticiou a respeito).

Agora, todos estes são inofensivos ao dia-a-dia de miséria que vive o país. Renato não. Renato e seus legionários dizem, em suas letras, assuntos que o governo e as multinacionais querem distantes da consciência de qualquer um, ainda mais do jovem, força maior deste imenso Brasil.

Mas agora é tarde. 0K, podem quebrar todos os discos do Legião - como alguns jovens fizeram após o show em Brasília. As canções, porém, jamais sairão de suas memórias.

domingo, 27 de fevereiro de 2011

Educadores lamentam escolha de Tiririca para comissão na Câmara

Algumas pessoas

teriam

vergonha de ____ fazer certos comentários
//////////////////////////////////////// indiferentes

caso pudessem


. . . . sentir o cheiro de carniça




que estes _____ mesmos exalam,

quinta-feira, 24 de fevereiro de 2011

A transa do gato com a árvore

O meu parto com o TKofL foi incomumente natural: eu me agachei e ele saiu... e mesmo coberto de placenta não me estranhou nadinha. Mesmo a crueza ou minimalismo ou batuque candombléctro; simplesmente amei. Mesmo o olhinho caído. Mesmo a sua rapidez, mas OH, nasceu com 4kg!

Te juro! Tive que parar de olhar pra criança pra dar de mama pras outras! 'Tô me proibindo de ouvir pq eu quero inflar um prazer de vontade, de desejo de ouvir, ... Mas toda vez que eu olho esse rebento... ao ouvir os comentários ácidos que ele vem recebendo,..., eu penso MAH COMO?! Será que é o mesmo álbum?

Sei lá, colocaram alguma coisa no meu download, deve ser isso.
E eu posso dizer que sou uma mãe muito sortuda!
Puxou ao pai...


;;.;;.....;....;.;;;;´´´´.,´´,...;;;;´´´;;;..;;;´´´´´;;;;


Depois de 12 horas de crescimento, um megabyte edificando o outro, quase ao completar os seus 80 mb de idade, tivemos um caso. Estava com medo: depois de tanto tempo – considerando a velocidade que o mundo gira hoje – ele trouxe um peso nas costas que não podia entender, mas como me ensinou Adoniran: “deus dá o frio conforme o cobertor”.
Estava na minha mesa batendo clics sobre janelas quaisquer quando ele apareceu. Meio estranho; Olha só, como falar de paixão a primeira vista sem parecer piegas? Posso? Não sei, não sei...
Num determinado momento, no primeiro (como bem lembro, chamou de Bloom), surgiu construindo uma estrutura, tecendo pequenos fios sobre um corpo desnudo como se fosse o destino jogando e entrelaçando. Como quando Carmen (de Bizet) brinca com o destino nas cartas e (vê o seu cruel). Era um emulador de piano, mas tinha cheiro de jogo/destino! Juro de pés juntos! Tanto que tinha um alerta em seguida, assim como grossos passos das partes graves, dos países baixos. Eu olhei pra tudo aquilo - pro King, ele olhou pra mim,...; eu disse 'vou te comer'; e ele me disse 'mas descobre meus pontos erógenos pq eu não sou os outros', eu disse 'tudo bem'; ele disse 'faz assim que eu gosto'. Não bobo, eu saí dali pq cultivar a sede (nesse campo) é melhor que satisfazê-la. Há um corpo inteiro pra conhecer, e posso tirar o melhor prazer de qualquer parte que for. “Sei de suas preferência”, eu disse. E ele respondeu “Olha, você bem sabe! Bem sabe o que faz. Não dá vontade de te tirar de dentro de mim”.
Uma noite!


Mas sério, (nem tanto assim)
Vejo tanta crítica por aí de pessoas que dizem sequer conseguir encontrar um momento grandioso no álbum, ou mesmo entrar em órbita, mas no mínimo nem tentam/conseguem tirar os pés do chão, pois estão com os bolsos abarrotados/cheios/e pesados de Hail to Thief, OK Computer, In Rainbows, Cosmogramma ou próteses do passado [[[que é ‘uma roupa que não nos serve mais’]]].


Faz o seguinte: na próxima, vai peladinho! Nuzinho da Silva (tanto de mitos quanto de fracassos)! Mas não pra responder no Orkut/facebook/twitter/blog. É pra responder só pro seu coraçãozinho radioheadiano!

Ou senão, vai pra casa. Um dia o amor vem.







The King of Limbs - Uma aproximação

Nos últimos dias tenho lido muitas reviews sobre o The King of Limbs e estranhado a maior parte delas. E em todas, praticamente como em qualquer crítica, gira um certo tipo de moral que há muito – em minha opinião – deveríamos ter abandonado: a da dualidade, o que nos leva a uma comparação débil sobre alicerces que são únicos.

Só como exemplo, a seguinte:

"“The king of limbs” não tem em sua paisagem sonora os grandes relevos, com picos montanhosos elevadíssimos de emoção ("Fake plastic trees"), nem vales abissais de depressões profundas ("Let down"), ou ambos em uma só canção ("How to desappear completely"),"

Mas não é estranho que fiquem procurando Porto Alegre em São Paulo, ou Rio em Florianópolis? Te contaram sobre a diferença, não? Um é um e outro é outro... Não era assim?



Há muitos modos de se dizer o ser’, e considerando absolutamente tudo que li, vou falar de aproximação ///[[[em caso de namoro/paixão de Radio por Porishead]]]///. Muito simples: alguém falou de uma influência de Portishead nos nossos queridos amigos ingleses.

No primeiro post sobre o TKofL, comentei sobre um parecer entr

e Bloom e Little by Little, principalmente, com músicas religiosas e brasileiras. E na primeira faixa de Third, álbum de Portishead, é dito por um homem “Esteja alerta para a regra dos três: o que você dá retornará para você. Essa lição você tem que aprender; você só ganha o que você merece”. Ok., pode me dizer que se trata de uma religião Wicca, sim, tudo bem. Mas na verdade, grande parte das religiões têm a sua:



Apenas uma observação,