
The Queen is Dead ("A Rainha Está Morta"), terceiro LP dos Smiths, foi recebido com uma generosidade de elogios cada vez mais rara na ranheta - porém criteriosa - crítica inglesa. Mas não é de hoje que o grupo é considerado o mais vital e consistente do universo pop. Antes de eles iniciarem sua excursão pela Europa e EUA - que tomou os meses de agosto e setembro - Morríssey recebeu Ian Pye, do New Musical Express, em seu luxuoso apartamento duplex, na parte mais aristocrática do bairro londrino de Chelsea. Dizem que o apê já foi inclusive habitado por Oscar Wilde, o que deve ter pesado na decisão da compra. Mas o que importa é que deste encontro saiu a entrevista mais reveladora do bardo de Manchester, traduzida com exclusividade para a BIZZ. Vamos lá!
A porta estava entreaberta. "Por que não?", pensei e fui entrando. O apartamento parecia se estender por mais de um andar e, sem encontrar ninguém no primeiro, subi as escadas até o segundo.
À distância, eu podia ouvir o refrão alucinado e circular de uma canção que tomou-se recentemente uma favorita pessoal. "Some girls are bigger than others, some girls´s mothers are bigger than other girls´s mothers´´. As palavras hipnoticamente repetidas ad infinitum.
Descobrindo o caminho, por um longo corredor discretamente decorado com carpete cor de aveia e pinturas a óleo em molduras douradas, comecei a perceber um outro som, igualmente consistente, porém menos refinado. O som de saltos ritmados talvez.
O lugar de onde vinha tudo aquilo era óbvio mas, uma vez na entrada, eu hesitei, tentando amenizar o impacto da minha intromissão. Na verdade, era tarde demais para pensar duas vezes: agora eu podia ver sombras tremulando na parede e o confronto parecia inevitável.
Essa imagem, refletida num imenso e ornamentado espelho divisado por ricas cortinas de veludo, era hipnotizante. Um louco redemoinho de material florido, rodopiando como um guarda-chuva aberto pelo vento. A figura girava dementemente sobre si mesma e, a cada pirueta, batia o pé no chão no ritmo da música. Ainda que os braços estivessem ambos levantados e arqueados, alguma coisa entre uma bailarina e uma saltitante escocesa, qualquer um poderia distinguir claramente o fio cor-de-pele de seu aparelho para surdez.
Eu nunca tinha visto Morrissey se divertindo tanto. Eu nunca o vi tão sorridente e satisfeito como agora. Eu dei uma daquelas estúpidas tossidas que servem para anunciar a presença... e a surpresa. Você está adiantado!", ele disse, parando meio sem graça. Eu tentei acalmá-lo com um comentário a respeito das suas pernas branco-peroladas e ambos olhamos para baixo reparando que ele vestia um saiote de bailarina. ´Finalmente se divertindo", arrisquei. Morrissey se divertindo?", pensei com meus botões.
"Se alguém souber disso, eu te mato!", rugiu ele, fugindo dos seus padrões normais. "Ok, ok", respondi, "no que depender de mim, você não vai ser pego embalado num saiote de bailarina!" "Não é por aí", ele me garante. "O que importa... o que importa é que eu jamais faria alguma coisa tão vulgar como me divertir."
Resolvi voltar numa outra hora. Morrissey vive elegantemente num dos quarteirões mais do bairro de Chelsea. Nada parece mais o lar de um gentleman inglês do que este. Temos que admitir que o enorme e preto gravador ghetto-blaster e o espelho de camarim, cercado de lâmpadas, tipo Nasce Uma Estrela, quebram um pouco o clima, mas o tom é decididamente clássico. Sherlock Holmes poderia ter morado aqui e talvez, fumando um pouco de ópio, em seu robe de seda, resolvido alguns casos. "Eu nunca poderia realmente viver num lugar, a menos que ele me agradasse em cada aspecto particular - esse aqui quase consegue", ele diz enquanto serve o chá cm xícaras de porcelana chinesa. "Se eu não pudesse ter uma mobília realmente boa, acho que dormiria numa caixa de sapatos." E, antecipando a resposta, acrescenta: ´ Na verdade, eu sempre fui assim".
Essa mansão alugada é o seu segundo lar. Ele ainda possui uma casa em Manchester da qual sua mãe toma conta, mas sua considerável coleção de livros, espalhada por ambos os lados da lareira de mármore, mostra que pelo menos metade da sua alma veio para Londres. Não encontro nada nas estantes que me deixe realmente surpreso. Wilde. Dean, Beaton, Kael, Delaney... um bandeiroso altar aos seus venerados ícones.
Obcecado como é pela cultura inglesa, perguntei se ele já tinha lido algum dos escritores ingleses contemporâneos. Ian McEwan, Graham Swift. Martin Amis. talvez? Ele me olha como se eu estivesse clinicamente insano. - ´Nem mesmo num dia de chuva, Quando se vê um nome como Leslie Thomas, a gente logo pensa que ninguém com um nome desses poderia jamais escrever alguma coisa de interessante." Quando chamo sua atenção para o fato dele ter sido responsável pela popularização do grupo com o nome mais impessoal da história da música pop. ele diz. com um cansaço meio afetado: - ´E, eu sei.. tem sido um grande esforço. Você tem, à sua frente, os restos mortais de um homem . E cai na risada,
Por outro lado, ele parece a imagem da saúde comparado aos dias em que apenas o seu topete parecia bem alimentado. Talvez, então, seja necessário acrescentar alguma coisa às suas velhas e familiares obsessões. E extraordinário que ele ainda esteja lendo os últimos livros sobre o caso Moors* ou sobre James Dean. Tudo isso é meticulosamente deliberado. "Sou muito seletivo´´, observa com um sorriso maroto. "Posso até chegar a Jane Austen, nem tanto Dickens. mas não suportaria alguma coisa ultrajantemente moderna."
Meu pedido para xeretar a sua coleção de discos foi negado. "Está guardada em Manchester. E o tipo da coisa que eu só faço em particular. Ouvir um disco é como aquelas pequenas coisas que se faz no banheiro. Quer dizer, eu poderia desprezar uma pessoa se encontrasse cem ela certos discos em particular, não importa quão gentil ela tenha sido comigo antes. Um LP escroto e eu já estaria chutando a pessoa nas canelas!" Aí tomei nota, mentalmente, para não esquecer de enterrar aquele primeiro disco de Madonna, caso ele resolva retribuir a visita. O resto da conversa apenas confirma que aquela imagem inicial de granito, atribuída a Morrissey no lançamento do compacto de estréia dos Smiths ("Hand in Glove". em maio de 83), tem sido cuidadosamente lapidada. Ocorre apenas que a estátua está quase condoída. Seus deuses estão guardados numa redoma de vidro: as preces também incluem George Formby. filmes ingleses dos anos 60 (especialmente A Taste of Honev), um sortimento de tragédias como o caso Marilyn uma cabeça completamente fechada para a maioria das músicas contemporâneas... "Esses discos tipo hip-hop OU seja lá como eles se chamam..." Vendo a capa do novo LP dos Smiths. Thc Queen is Dead, que beira a paródia mas também é um fotograma arquetípico de um sereno Alain Delon, é fácil perguntar como os Smiths poderiam um dia fazer algo realmente novo.
Mesmo assim, os compactos continuam saindo e, com a possível exceção de "Shakespeare´s Sistem" todos são preciosos. Os observadores atentos, porém. perceberam os tropeços. O longe e amargo drama de uma briga na Justiça com o selo Rough Trade atrasou o lançamento do LP por oito meses - bem rock biz, não é?
Lamentações que se refletiram no mercado pelas baixas colocações nas paradas e, pior ainda, no debilitante calvário dos grupos pop através do conhecido, universo chamado eufemisticamente de "problemas pessoais". Isto posto, para seus dedicados seguidores, os Smiths continuam sendo o único grupo com o qual vale a pena se preocupar e, pela primera vez, esses fãs não se enganaram. A primeira audição, The Queen e Dead pode parecer um outro exercício de consumada "Smithice". Afinal, nada mudou na superfície. Os mesmos arranjos, guitarra e bateria sem metais ou teclados, nenhuma guinada radical. Se o ouvimos mais atentamente, porém, descobrimos um disco tocado por uma visão lírica e musical que reduz a zero muitos dos seus contemporâneos.
Esses prazeres são mais elevados ainda pela sua raridade. O súbito aparecimento dos Smiths em 83 foi recebido como um grande alento. Três LPs e incontáveis compactos depois, ninguém os alcançou. O cenário independente já não é tão somente um gueto, mas um grande subúrbio do qual não se pode escapar. E os poderosos preservam seus domínios com um fervoroso senso do que é certo e o que é errado para o consumo da massa.
Enquanto exaltava grupos como o Easterhouse ou, antes dele, o Woodentops (que ele agora insiste em chamar de Sudden Flops - num trocadilho que quer dizer "Os Repentinos Fracassos", comentário que reflete não só o fim de suas esperanças como a campanha movida contra ele pelo grupo, que culminou com uma ameaça de bomba - veja só que mocinhos sérios eles são!), Morrissey adotou agora uma postura de extremo pessimismo, colocando o seu grupo como o ponto final na Babilônia do Rock.
"Mas que mais pode acontecer?" ele afirma realisticamente. "Existe ainda alguma coisa para acontecer? Não, porque a indústria está morrendo, a música está morrendo. É a mesma coisa se você olhar para a indústria cinematográfica, não há nada para acontecer. Todas as histórias da vida humana já foram contadas.
"Eu senti que ainda havia um último filão intocado e nós o exploramos. Agora que a fonte foi canalizada, ficou um deserto cultural.
"Mesmo que você deteste os Smiths, você tem que admitir que eles têm o seu espaço próprio, mas não é mais possível conquistar o seu próprio espaço. O fato dos Smiths terem conseguido isso já é por si só digno de espanto.

"Ou seja, eu estava doente e disse que estava doente. Ninguém nunca disse antes que estava doente. Dentro dessa síndrome do sexy e do bonito, eu popularizei os óculos fornecidos pela Previdência Social! Eu não cheguei a tornar popular o aparelho de surdez, graças a Deus, isso não pegou, mas foi uma das minhas colocações. Não uma prótese, porque isso soa como sapatos de marshmallow ou terno de bolinhas. Até hoje faço questão de afirmar que toda aquela coisa das flores** era muito criativa, nunca medíocre ou estúpida pode-se dizer sim, Morrisey aquele velho excêntrico consiga chegar onde cheguei. Todo mundo segue as mesmas regras e faz exatamente o que lhes dizem. Todos os grupos modernos fazem exatamente o que se espera deles - fluentemente, mas quem se importa?´ -
Vamos falar do novo LP?
"Mas por quê? Pelo amor de Deus!"
O novo disco dos Smiths começa com a faixa título e alguns versos de Cicely Courtneidge , uma lenta mas rebelde versão de ´´Take me Back to Dear Old Blighty" de The L Shaped Room. A música, assim como o filme, fala de um certo modo de ser inglês - na verdade, para Morrissey, um modo de ser inglês inestimável que se perdeu para sempre. Na cena original, Courtneidge representa uma esquecida performer dos tempos de guerra, vivendo seus últimos dias num decrépito apartamento em Fulham. Ela revive aquelas cançonetas meio esquecidas numa noite de Natal, cercada pelos novos cosmopolitas londrinos. E uma cena pesada e emotiva que evoca uma Inglaterra talvez mais gentil e certamente mais simples no seu charme. Um país que enaltecia conversas de humor inteligente, cartas bem escritas, lojas de esquina e melodramas teatrais.
No entanto, The Queen is Dead não é apenas uma lamentação ininterrupta. A rainha é usada como metáfora dupla para um mundo que se foi e para a herança sem sentido da monarquia em 1986. Trata-se também de um dos rocks mais excitantes que os Smiths já fizeram, com a música de Johnny Marr sugando o ouvinte para dentro de uma estonteante farsa negra.
"Eu não pretendia atacar a monarquia de uma maneira grosseira, como um bêbado", ele explica em seu cada vez mais sedutor sotaque de Manchester. ´Mas, à medida que o tempo foi passando, aquela alegria que a gente tinha foi lentamente se escoando e sendo substituída por alguma coisa completamente cinza e deprimente. A idéia da monarquia e da rainha da Inglaterra vem sendo reforçada de forma a aparecer mais útil do que realmente é."
Sugiro que o mais difícil de engolir, nessa história da monarquia hoje em dia, é a maneira como cada vez mais se utilizam dela como um tipo de camuflagem política. Há cinco milhões de desempregados? Então, tomem outro casamento real para vocês!
"E verdade. Isso é lamentável. Se você considerar quão mínima é a contribuição deles quando se trata de ajudar as pessoas... Eles nunca, sob qualquer circunstância, fazem alguma consideração sobre o mundo ou sobre a vida das outras pessoas. A coisa toda parece uma piada, uma piada de péssimo gosto. Não acreditamos em duendes, então por que deveríamos acreditar na rainha?
"E, quando olhamos para os indivíduos que fazem parte da família real, eles são tão magnífica, incomensurável e imperdoavelmente chatos.! Quero dizer, a Diana mesmo nunca na sua vida balbuciou nada que tenha sido de alguma utilidade para qualquer membro da raça humana. Se temos mesmo que conviver com essa gente horrorosa, por que eles não podem, pelo menos, fazer alguma coisa um pouco diferente?"
Mas se a família real realmente consegue alguma coisa é trazer turistas americanos para o país, o que como vocês podem imaginar - não é exatamente um motivo de júbilo para Morrissey. Na verdade, a coisa é mais profunda. Seu descontentamento com a nova Inglaterra é inflamado pela crescente americanização do país. Os mísseis, as lanchonetes, uma geração unidimensional desesperada atrás do sucesso produzido e padronizado. Arrastado contra sua própria vontade para o século vinte, Morrissey parece, em muitos aspectos, mais próximo à geração anterior à sua. De fato, ele não se importa em dizer isso. Para ele, o futuro é um pesadelo absurdo.
"Essas pessoas podem não ter o sentido do social", diz a respeito dos adeptos da sobrevivência nos anos 80, "mas, o que é mais importante do que isso, não têm o menor senso de gosto. E tanto mau gosto em todas as áreas e é isso o que mais me preocupa" Tudo isso começa a fazer Morrissey parecer um velho sentimental e nostálgico. Isso ele nega até à morte e, embora seja fácil simpatizar com a sua má vontade em relação à cultura yuppie e ao desaparecimento da gentileza britânica, na verdade ele parece gastar tempo demais olhando para o passado.
Eu mesmo sempre achei que ele estava um tanto crescidinho para cantar músicas sobre seus tempos de escola, como "The Headmaster Ritual", e "Meat is Murder" tem também sua queda pela poesia do colegial. Agora. em The Queen is Dead, com 27 anos recém-completos, ele aparece com música sobre sair ola casa dos pais! ´´Sim, sim, mas..." Ele diz com seu ronronado mais cativante e que, grosseiramente traduzido, ficaria algo como "tenha sua opinião, mas, pelo amor de Oscar Wilde, pense bem e veja se enxerga algum sentido nisto".
"Você não acha que, mesmo hoje em dia, certas recordações dos dias de escola ainda se agarram à gente e então, de repente, você se lembra de um dia em 1963 quando alguém fez alguma coisa completamente insignificante a você?"
Para ser honesto, isso não acontece comigo. Existe sempre uma recordação mais recente pronta para atacar.
Será que ele não percebeu que a maioria das pessoas da sua idade já assou pelas fases de fumar escondido, ter um romance e um casamento e já estão no estágio do divórcio e do segundo casamento? "E eu ainda estou esperando ser selecionado para a equipe de natação!"
"Mas eu sinto, de uma maneira absoluta, que tenho vivido como um sonâmbulo durante 26 anos. Nos momentos negros em que eu caía em mim, estava lendo o jornal. Veja bem, eu nunca passei por essas buscas triviais. O que eu fazia mesmo era ler todas essas revistas de música. Quer dizer, eu me lembro quando o New Music Express custava doze pence, eu me lembro quando o Disc custava seis pence. Eu me lembro quando você podia comprar todas as quatro publicações semanais de música por menos de 50 pence!"
Uma das lições que Morrissey aprendeu foi a do peso do sucesso. O veículo de suas reclamações é"Frankly Mr. Shankly", uma brilhante peça de music hall moderno que cuidadosamente contrapõe, a uma pergunta: você não estaria apenas se lamuriando a respeito da fama como eles sempre fazem?
"Sim! Como eles sempre fazem!" ele responde com um gesto extravagante. "Sim, eu estou me lamuriando", ele repete, acariciando a sobrancelha com as mãos mais melodramáticas da história do palco. "Eu já estava pegando na borracha, pensei, bem, não, quero mesmo é reclamar, eu quero mesmo é me lamentar. Reclamar é tão pouco viril, acho que é por isso que eu faço isso tão bem!"
Rindo cada vez mais: "Sim... ´Fame fame, fatal fame/ it can play hideous tricks on the brain´/ (´Fama, fama, fatal fama/ ela é capaz de pregar peças odiosas no cérebro´). E realmente estranho e tenho a impressão de já ter dito isso antes -meu Deus, de repente, quando alguém luta tão penosamente por alguma coisa e de repente ela parece transbordar dentro de si, então o prazer se mistura à dor. Não me entenda mal, eu ainda quero, eu ainda preciso da fama, mas...
"Mesmo que você receba 500 cartas de pessoas que dizem que o disco fez com que elas se sentissem completamente vivas - de repente, fazer alguma coisa espantosamente simples como acender uma vela pode ser mais intrigante, em um sentido perverso, do que escrever outra canção. Mas o que seria qualquer coisa se não houvesse dor?"
No passado, muita coisa foi tirada do estoque de heróis de Morrissey. Os espectros de Oscar Wilde e James Dean não apenas flutuam por trás dele, mas na verdade se incorporam ao seu inflamado e freqüentemente depreciativo humor, e o seu descuidadosamente despenteado topete é realçado pelo eterno jeans desbotado. A sua assimilação desses personagens pregou suas peças com o tempo e a imagem mas, mesmo assim, muitas dessas coisas - principalmente as relativas a James Dean parecem ser apenas uma cortina de fumaça.
As letras do novo LP, restritas corno são aos temas de estar em casa e sair de casa, não deixam nenhuma dúvida a respeito da identidade do verdadeiro herói ou heroína de Morrissey: sua mãe. Mas não é fácil falar sobre isso - não que ele não concorde com a minha sugestão - é que esse é um dos assuntos que ele prefere evitar na imprensa.
"Mentalmente, eu não acredito que tenha chegado a sair de casa", admite. "A gente sempre pensa que, medida que a vida vai seguindo, vamos abrir novas portas. Mas o que me chocou é que, na verdade, isso não acontece... Mas quem aceitaria descrever sua própria vida como um sonho ruim, Ian? Milhões de pessoas aceitariam. Só porque isso nunca foi colocado, não o torna implausível em dramático."
Para cada canção que explora a dor especial da solidão em The Queen is Dead - "If you are so dever why are your on you own tonight?" ("Se você é tão sabido, por que está sozinho esta noite?"), murmura ele magnificamente na cortante "I Know It´s Over" - existe um equivalente cômico para contrabalançar. É um alívio saber que mesmo o príncipe do sofrimento gosta de uma boa risada de vez em quando.
Trata-se, propositalmente, de um disco de extremos. Salta com despreendimento do trágico para o cômico. A faixa-título combina os dois ao mesmo tempo. Tendo invadido o palácio, ele confronta a rainha com uma rima mais ultrajante do que o crime que o inspirou: "And so I broke into the palace with a sponge and a rusty spanner! She said: Eh I know you and you cannot sing´! 1 said: ´that´s nothing you should hear me plaving piano´". ("Então, eu penetrei no palácio com uma esponja e um rodo enferrujado! Ela me disse: "Eh, eu te conheço e você não sabe cantar" / Eu disse: "Isso não é nada, você precisa me ouvir tocando piano").
Ele também ousa sugerir que o príncipe Charles deveria alegrar nossa existência com uma pitada de travestismo, e que. afinal, o clero vem fazendo isso há tanto tempo - provando, aliás, que a zombaria não é monopólio de jornalistas e feirantes.
Se você ainda tem dúvidas a respeito de sensibilidade humorística de Morrissey, deixe-me contar que seu programa favorito na IV é, atualmente. Cagney and Lacev. "Você não assiste? Então você está por fora.
Ele sempre reclamou que as pessoas são inaptas para enxergar o humor, e talvez isso explique a sua porção generosa no disco. Muito disso pode parecer negro de tão perturbador. os gestos de um homem condenado a caminho do cadafalso, mas, acima de tudo, o negócio funciona. "Cemetery Gates" - por exemplo, resolve ainda mais o júbilo e morbidez.
"É como aquele papo de ´famosas últimas palavras´. As últimas palavras de muita gente foram exuberantemente memoravems. Howard Devoto estava me contando uma vez - nós estávamos num cemitério, tínhamos decidido dar uma volta pelos cemitérios de Londres, festivos, incorrigíveis que somos, os dois, você sabe, vestir as botinas, pegar umas cervejas e marchar até o cemitério de Brompton - a história de um velho oficial da Marinha morrendo, afogado em sangue. tendo um ataque do coração muito artístico), enquanto seu braço direito dizia: ´Não seja idiota, Charles, levante, força aí, nós vamos para Bognor esse fim de semana. Ele vira para o cara e diz ´dane-se Bognor!´ e ´Dane-se Bognor´, foi gravado na sua lápide como suas últimas palavras. E um ótimo nome para um LP, ´Dane-se Bognor!"
No entanto, - "Cemetery Gates" não faz apenas piadas sobre túmulos. Ela se preocupa com o controverso assunto de plágio. Ele diz que sempre ficou feliz em admitir que havia pego emprestado um verso ou dois, a maioria de filmes. A Taste of Honev, Rebel Without a Cause (Juventude Transviada) e Sleuth (Jogo Mortal) são alguns que já inspiraram Morrissey.
Ele ridiculariza aqueles espíritos "retentivos anais" que pensam que fizeram uma grande descoberta e denunciam toda a obra de alguém como sendo deteriorado pela pilhagem. "E óbvio que a maioria das pessoas que escrevem pegam emprestado de outras fontes", ele contemporiza. "Todo mundo pega do varal alheio."
"O verso "I dream about you last of Honey e até hoje eu sou persistentemente acusado pelo uso desta frase."
"Eu nunca escondi o fato de 50% da razão de eu escrever dever-se a Shelagh Delaney. que escreveu A Toste of Honev. E ´This Night Has Opened my Eyes´ é uma canção tipo Taste of Honev, é a peça colocada em forma de letra de musica. Mas é porque eu levo tão a sério o ato de escrever que as pessoas dão tamanha importância ao fato de me passar uma rasteira.´´
Eu tenho certeza de que muita gente vai achar esse filão mórbido e depressivo, que percorre The Queen is Dead. duro de suportar. Desta vez, quem sabe o humor agudo de Morrissey possa aliviar a cara mas a maioria do material é gloriosamente negativista. Além do mais, não parece combinar com o moço relativamente animado que tenho à minha frente.
E quando digo que ele parece melhor e que ri mais do) que costumava. ele sacode a cabeça como se eu estivesse tentando atacar toda a base de sua carreira. "Você precisa de óculos´´. contesta.´ - Precisa olhar de novo."
"Não sou feliz, não mesmo ele murmura. "Eu conheço um monte de gente que nessa hora vai jogar a revista no chão e dizer: ´Bem. Morrissey, esta é a sua plataforma, este é o distintivo que você usa com orgulho como se você pedalasse alegremente à beira do abismo e. de repente, soltasse as mãos do guidão.
"Mas quase todos os aspectos da vida humana me defende seriamente... Eu realmente sinto que todos esses rótulos, o ´depressivo´, a ´monotonia´, todos os rótulos que evitei ou neguei estão provavelmente corretos. Se você me compara com o protótipo de estrela de rock e julga em comparação com essa atitude ultimamente débil. que é tão útil quando) se quer entrar na indústria musical. então, sim, eu sou depressivo. Se eu não estivesse fazendo isso, honestamente não acredito que gostaria de continuar vivendo. As pessoas evitam fazer esse tipo de colocação, porque sempre que alguém a faz não parece ter nenhuma utilidade."
Que alguém dessa natureza exista dentro da indústria pop britânica é, no mínimo, intrigante, mas, pensando bem, ele exagera um pouco. Para começar tomemos os próprios Smiths. Eles são capazes de lançar compactos com a rapidez de uma metralhadora, comparados aos seus esgotados rivais: e quanto à música, são pouquíssimos os que conseguem compor de uma maneira tão bela quanto eles, Tudo isso parece se contrapor ao opressivo peso da angústia.
O verdadeiro problema de Morrissey. ao que aparece, é um caso crônico de adolescência permanente. Da mesma maneira que ele se recusa a deixar o século dezenove, ele se recusa a sair de casa. "Eu sei", afirma com um tipo de rejubilante resignação. é uma desgraça nacional! Nós sabemos que há uma vergonha lidada a isso. Se você, aos dezenove anos, ainda estiver morando com seus pais. você é considerado um tipo de monstro de quatro olhos, com perna de pau e sexualmente reprimido - o que em última instância é absolutamente verdadeiro!"
A crise de riso histérica que segue é um colírio para olhos doloridos.
No passado, ele não teve piedade em criticar o Joy Division pelo seu suposto chic suicida". E quem irá negar que o grupo ganhou uma outra dimensão depois da morte de lar Curtis? Toda imagem tem um preço e os Smiths justificam a sua através da integridade artística. Mas é fato que algumas dessas canções não estão muito longe dos manuais esteticistas de saída pela morte.
A descoberta de que seis pessoas que eram tremendamente dedicadas aos Smiths" tiraram suas próprias vidas nos últimos dois anos sugere que isso não é um simples melodrama.
"Seus pais e amigos escreveram para mim depois que eles morreram", explica. "Isso é uma coisa sobre a qual não deveria ser tão difícil comentar, porque, se as pessoas estão basicamente infelizes e querendo morrer, então elas vão morrer.
"Embora seja difícil para muita gente aceitar isso, eu realmente respeito o suicídio porque ele é uma forma de controle sobre a própria vida. E o ato mais forte que uma pessoa pode realizar e as pessoas não são verdadeiramente fortes. Você pode dizer que é negativo deixar o mundo, mas, se a vida das pessoas for, antes de tudo, fértil, elas nunca vão pensar em se suicidar. A maioria, como sabemos, leva uma vida vazia e sem esperança."
"Eu não posso me sentir responsável.., não totalmente. Creio que, em muitos desses casos, no último período triste da vida dessas pessoas, pelo menos ter os Smiths foi de alguma utilidade para elas."
E ele, já pensou em se suicidar´? 183 vezes pelo menos. Eu acho que você atinge um ponto em que não dá mais para pensar nos seus pais e nas pessoas que você vai deixar para trás. Você vai além desse estágio e só consegue pensar em si mesmo."
"É o tipo de situação com a qual as pessoas podem facilmente brincar e achar romântico. Todos os grandes pop stars que não tinham importância para ninguém enquanto existiam deram com suas mortes uma coloração fascinante às suas vidas, Se, por acaso, a maioria dessas pessoas estivesse viva, ninguém iria se importar muito."
"Eu acho que o suicídio intriga todo mundo. E, ainda assim, é uma daquelas coisas sobre as quais ninguém nunca fala a respeito de maneira interessante. Você sempre acaba no velho ´Ah, é tão negativo, é uma atitude tão equivocada!´
Eu pergunto se essa fascinação pela morte não seria uma maneira conveniente de dar um sentido para nossas vidas quando deveríamos estar olhando para outras coisas. "Acredito que não. Tantas pessoas que eu admiro tiraram suas próprias vidas.. Stevie Smith*** , Sylvia Plath ~ , James Dean, Marilyn Monroe, Rachael Roberts***** ... São tantas.
Já das canções do novo disco, a deliciosa - ´Some Girls are Bigger Than Others" deve ser a mais evocativa poesia sobre o nada jamais escrita. Por alguma razão, todos os tipos de permutação passam pela nossa cabeça quando ela está tocando, uma hilariante gozação às fotos de mulheres nuas que torna impossível evitar a lembrança de que Morrissey não faz músicas sobre mulheres - a menos que se trate de sua mãe.
"Bem, existem músicas sobre mulheres", diz, antes de cair na risada de novo. "E só procurar e cavar fundo. Eu gostaria mesmo de escrever sobre mulheres. A idéia da feminilidade é uma coisa que para mim permanece inexplorada. Eu estou percebendo coisas sobre as mulheres que nunca percebi antes e ´Some Girls´ se refere ao absurdo de reconhecer os contornos do próprio corpo. O fato de eu ter passado vinte e seis anos da minha vida sem nunca ter percebido que os contornos de cada corpo são diferentes é um ultraje escandoloso!"
Existem ainda sinais de que ele possa um dia vir a crescer, embora eu não esteja querendo dizer que isso é uma coisa que deva ser encorajada. O mais longo período de celibato fora de um monastério budista foi quebrado. "Eu me enganei redondamente", ele admite. "Fui apanhado quando baixei a guarda, mas eu volto, lógico, mais triunfante do que nunca, para a mais implausível, inacreditável, absurda e necessária situação que pode acontecer a qualquer pessoa inteligente."
Já se apaixonou?
"Sim, não. sim, i1ãO, sim... e isso é o mais claro que eu posso ser!" Numa arena habitada pelos mais ridículos "monstros machos", os Smiths apresentam uma imagem que é absolutamente não fálica. A sexualidade que o grupo, na verdade, possui, é de um tipo muito mais natural do que aquela apresentada pelos marionetes da MIV fixados no baixo ventre. Nem todo mundo aceita isso. Quando o Smash Hits (revista pop popularesca da Inglaterra) insinuou que havia um certo interesse de Morrissey por Peter Burns (cantor do Dead Or Alive), eles aparentemente escreveram o que lhes veio à cabeça.
A entrevista entre Peter e eu foi completamente honesta e civilizada", lembra, ´´e eles nos transformaram em palhaços. Eu supostamente o teria chamado de Joan Coluns (atriz da série Dinastia)... Tudo foi completamente deturpado com simbolismos camp, quando não se tratava disso. Eu fiquei muito aborrecido.., muito aborrecido.., eles fizeram a gente parecer um casal de bonecas meladas." O que ele pensa dos símbolos sexuais à disposição no momento? Madonna, Prince, Boy George?
"Madonna representa obviamente tudo que há de mais absurdo e ofensivo. Feminilidade desesperada. Madonna está mais perto da prostituição organizada do que qualquer outra coisa. Quer dizer, a indústria musical é logicamente idêntica à prostituição. Mas existem prostitutas e prostitutas."
"Para mim, Prince não significa nada. O fato dele fazer sucesso na América é interessante apenas por que ele é levemente afeminado e isso não tinha acontecido antes, por lá. Boy George, também, eu acho que não tem nada a dizer."
Na sua posição única de marginais bem-sucedidos, os Smiths escapam do tipo de cobertura de imprensa que a maioria dos pop stars adora ou agüenta. Mas não faltam tentativas de revolver a vida deles para achar alguma "sujeira" -
A mais recente é uma biografia do grupo escrita por Mick Middles. Ela mistura anedotas com um tipo de mentalidade de detetive infantil, que apenas o mais ardoroso fã poderia saborear. Para Morrissey, foi uma leitura fascinante.
"Eu não espero encontrar esse livro em outro lugar que não seja a seção de ficção! Ele é tão permeado de imprecisões. (100, para mim, foi muito excitante. Eu aprendi muito. Se eu tiver alguma dúvida a respeito do futuro, tudo que eu tenho a fazer é dar uma olhadinha no livro para saber qual é o próximo passo. Nesse sentido, Mick Muddled trocadilho com Middles. quer dizer "embaralhado" foi de uma ajuda religiosa em mais de um sentido. Eu não tinha a menor idéia, por exemplo, de que em certa época iria empresariar o Theatre of Hate. Eu nem mesmo) sei quem são eles! Ou seja, para mim foi uma iluminadora compilação de fofocas!´´
Que os Smiths desejam fazer mais do que uma serenata para o crepúsculo do mundo é evidente, pelo recurso a urna temática recorrente que podemos resumir como uma reivindicação de carinho e compaixao.

Em função disso, e considerando que eles representam a sensibilidade de urna enorme legião de garotos espalhados por todo o mundo, é surpreendente que eles não tenham sido convidados para participar do BandAid. Ou foram? Segundo Morrissey, "ninguém que fosse mais jovem que Boh Geldof poderia chegar perto do palco, do contrário os Boomtown Rats corriam o risco de parecer uma coleção de brontossauros. Tampouco aqueles que não venderam um milhão de cópias foram aceitos. Será que os Boomtown Rats venderam o seu milhão? Se o fizeram, então trata-se mesmo de uma banda notável!" Nem mesmo a realização de eventos beneficentes posteriores tais como Fashion Aid ou o Sports Aid conseguiram alterar um pouco essa postura de escárnio. "As pessoas se deixaram o cegar pelo dinheiro", ele argumenta. "Fomos feitos de bobos por uma tramóia do show-biz!´5
"Se se tratasse de uma questão doméstica, duvido que o fato tivesse qualquer repercussão. Tenho certeza de que os organizadores iam se dar mal. Se a gente fala do desemprego na Inglaterra, ninguém dá a mínima. Creio que há muito mais glamour nesse épico etíope. Trata-se de algo distante, do outro lado do mar. Pop stars, gente de cinema, essa história foi e continua sendo mero escapismo."
"Evidentemente, esse glamour encobre uma questão mais grave, ou seja, considerando que o mundo é totalmente controlado, porque eventos como estes seriam permitidos? Mas eu também fico chocado com a culpa sendo colocada sobre os ombros dos ingleses. Quantas pessoas na Inglaterra não vivem em condições de pobreza absoluta..."
"Quando isso começou, senti um cheiro ruim e para mim ele continua. Estamos a um passo de Hollywood. Quando virá o filme´? O LP solo está saindo? O livro já está pronto? E a valentia de quem vai depois jantar com a realeza. Por que ele não sacudiu a Margareth Thatcher pelo colarinho quando teve a chance? Não... E ainda ter de ouvir o Bob falar tão amavelmente do príncipe Charies! Tudo isso para mim é muito irreal - E olha que eu nem usei a palavra ambição."
Enquanto isso, os Smiths tocaram amargo, mas eu não me senti assim tão terrivelmente comovido com a iniciativa´´, diz sorrindo. "Achei que o evento era uma coisa tipo meia-idade. E realmente eu não consigo ver nada especialmente interessante em Neil Kinnock (candidato do Partido Trabalhista a primeiro-ministro) - Não tenho nenhuma afinidade com ele, mas se as pessoas acham mesmo que têm de votar, parece-me que o nome dele é o mais apropriado. Eis o motivo da nossa breve, porém tempestuosa, apresentação.´´

"Quando subimos ao palco, o público pareceu tomado) de horror. Aí eles tiraram seus walkmans, jogaram suas malhas no chão e, de repente, o lugar parecia aceso, incendiado de paixão."
Juntos, conversamos sobre o futuro, a terrível besta dos mais negros pesadelos de Morrissey. Concordamos que provavelmente Margareth Thatcher acabará por nos matar a todos. A Rough Trade já não mais insistirá na produção de clips e os Smiths estarão. enfim, livres deles. Andy Rourke voltou à banda. Craig Gannon é o quinto membro dos Smiths, mas eles não estão se transformando nos Rolling Stones, estão só tocando com eles: Johnny Marr está trabalhando em dois projetos paralelos, um com Keith Richards, outro com Bryan Ferry. Existe já a perspectiva de duas turnês, uma na Inglaterra e outra nos EUA, bem como o novo compacto. "Panic". Talvez se possa dizer que tudo isso parece um tanto róseo. Cabeça caída para o lado, fruindo o conforto de sua poltrona favorita, Morrissey parece estar à vontade. O pobre diabo que carrega o mundo nos ombros parece, no entanto, radiante. Ele deixou a escola, saiu de casa (quase)... o que virá em seguida? Que tal um relacionamento com alguém?, sugiro à maneira de uma despedida.
"Eu queria dizer o seguinte", diz lentamente, num tom de confidência, "sempre acreditei que a minha genitália era algo como o desfecho cruel de uma piada idiota. Lembro-me de uma entrevista em que Gary Glitter deu ao NME no início dos anos 70, onde ele concluía fazendo uma observação sobre a permanente lembrança de que há algo entre suas pernas. Eu, então, pensei que talvez fosse apropriado encerrar esta com algo como... a permanente lembrança de que não existe absolutamente nada entre estas pernas!"
Isto certamente vai desapontar milhões de pessoas!
"Não creio, Ian... isso, sim, é muito desapontador pra mim."
* Série de assassinatos de crianças ocorridos em Manchester, no ano de 1996. "Suffer Little Children", do primeiro LP dos Smiths, é inspirada no caso
** Morrissey refere-se ao começo da carreira do grupo, quando ele andava invariavelmente com um buquê de flores nos fundilhos das calças, e fazia, durante os shows, chuvas de pétalas sobre o público.
*** Poetisa inglesa, nascida em 1902.
**** Poetisa americana.
***** Atriz inglesa, trabalhou no "Assassinato no Expresso do Oriente".