Radiohead
O que o Radiohead conseguiu fazer com mídia e fãs de rock no ano que passou foi algo espetacular. Destaque em todos os veículos de comunicação - mesmo avesso a entrevistas e promoções -, ofuscou o brilho do lançamento do U2, congelou o mundo para lhe entregar um álbum frio, sem refrãos memoráveis nem histórias de amor ou riffs de guitarras assoviáveis. Pior: Kid A levará anos para ser compreendido e muita gente tentará copiá-lo sem atingir êxit
o. Todo o esquema foi proposital. A idéia era complicar ao máximo, dar coceira na cabeça da platéia. Entraram numa viagem claustrofóbica e irônica de onde é difícil imaginar como e quando sairão. Até a home page da banda é de tétrica navegação. Ela é cheia de bifurcações e provocações - a área dedicada ao comércio de produtos com a marca Radiohead leva o nome de "desperdício".
O momento não poderia ser mais propício a toda essa onda. OK Computer, o terceiro disco, deixou o grupo numa posição confortável. Respeito entre os pares e boas vendas foram fundamentais para que a EMI patrocinasse a estocada de Yorke, Ed O’Brien, Colin Greenwood, Jonny Greenwood e Phil Selway. Foram horas e horas em estúdio, gastando dinheiro, perdendo material, gravando jams, gastando dinheiro, duelando com seus próprios egos, descartando melodias fáceis e gastando dinheiro. Colaram o resultado da aventura, escolhendo os retalhos mais experimentais, e entregaram aos executivos. "É o seguinte: não gravaremos clipes, não lançaremos single promocional, não queremos fotos nem letras no encarte e só faremos shows com a nossa própria estrutura" - deve ter sido mais ou menos esse o papo da banda com seus patrões.
A operação parece ter sido lucrativa. Até a EMI brasileira comemorou - foram comercializadas 10 mil cópias de Kid A só na primeira semana de loja. E o Radiohead ficou feliz, com seu disquinho sincero, esquizofrênico e genial. Deve continuar vendendo bem conforme as pessoas forem descobrindo seus encantos escondidos. Um dia, alguém vai pegar qualquer desses filmes da Disney e descobrir que existe sincronismo entre ele e Kid A. Ao menos, vai ter gente retirando a parte da caixinha do CD onde o disco vai preso para achar o segundo encarte que tem ali atrás (a edição nacional saiu sem isso).
Quem ousou pensar em jogada de marketing, quem inventou teorias diminutivas para justificar a não compreensão do álbum tem alta chance de ter errado em cheio. O Radiohead é um grupo no qual ainda dá para se confiar. É possível enxergar honestidade em seus atos e isso comove. Melhor aproveitar agora. Porque, um dia, eles vão fazer o que o U2 faz hoje. Mágica, como tudo nessa vida, não é para sempre.
O que o Radiohead conseguiu fazer com mídia e fãs de rock no ano que passou foi algo espetacular. Destaque em todos os veículos de comunicação - mesmo avesso a entrevistas e promoções -, ofuscou o brilho do lançamento do U2, congelou o mundo para lhe entregar um álbum frio, sem refrãos memoráveis nem histórias de amor ou riffs de guitarras assoviáveis. Pior: Kid A levará anos para ser compreendido e muita gente tentará copiá-lo sem atingir êxit

O momento não poderia ser mais propício a toda essa onda. OK Computer, o terceiro disco, deixou o grupo numa posição confortável. Respeito entre os pares e boas vendas foram fundamentais para que a EMI patrocinasse a estocada de Yorke, Ed O’Brien, Colin Greenwood, Jonny Greenwood e Phil Selway. Foram horas e horas em estúdio, gastando dinheiro, perdendo material, gravando jams, gastando dinheiro, duelando com seus próprios egos, descartando melodias fáceis e gastando dinheiro. Colaram o resultado da aventura, escolhendo os retalhos mais experimentais, e entregaram aos executivos. "É o seguinte: não gravaremos clipes, não lançaremos single promocional, não queremos fotos nem letras no encarte e só faremos shows com a nossa própria estrutura" - deve ter sido mais ou menos esse o papo da banda com seus patrões.
A operação parece ter sido lucrativa. Até a EMI brasileira comemorou - foram comercializadas 10 mil cópias de Kid A só na primeira semana de loja. E o Radiohead ficou feliz, com seu disquinho sincero, esquizofrênico e genial. Deve continuar vendendo bem conforme as pessoas forem descobrindo seus encantos escondidos. Um dia, alguém vai pegar qualquer desses filmes da Disney e descobrir que existe sincronismo entre ele e Kid A. Ao menos, vai ter gente retirando a parte da caixinha do CD onde o disco vai preso para achar o segundo encarte que tem ali atrás (a edição nacional saiu sem isso).
Quem ousou pensar em jogada de marketing, quem inventou teorias diminutivas para justificar a não compreensão do álbum tem alta chance de ter errado em cheio. O Radiohead é um grupo no qual ainda dá para se confiar. É possível enxergar honestidade em seus atos e isso comove. Melhor aproveitar agora. Porque, um dia, eles vão fazer o que o U2 faz hoje. Mágica, como tudo nessa vida, não é para sempre.
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